Apesar de ser uma marca de grande sucesso na indústria cinematográfica, há de se reconhecer que as produções da Marvel Studios sofrem de uma mesmice temática e estética. A grande maioria dos filmes têm a mesma aparência e o mesmo tipo de humor, fórmulas que o produtor Kevin Feige aperfeiçoou ao extremo para garantir uma máquina eficiente e que garante pouco risco.
Porém, Lobisomem na Noite parte para tentar acrescentar um pouco de diversidade ao caldeirão. Lançado no Disney+ sob o recém-inaugurado selo de “Marvel Special Presentation”, o especial de Halloween surge como uma criatura aparentemente descolada de todo o resto – e bem mais interessada no gênero do terror do que super-heróis e quadrinhos, apesar de seus personagens serem originados de uma linha mais oculta da editora nos quadrinhos.
Com pouco mais de 50 minutos, o especial apresenta um grupo de caçadores de monstros que é reunido na mansão de seu falecido mentor, Bloodstone, para uma tarefa distinta. Todos ali serão testados para conquistarem a liderança de um poderoso artefato, posição que será garantida a quem conseguir matar uma fera maléfica que está à solta na propriedade de Bloodstone.
O que torna Lobisomem na Noite tão interessante é justamente sua proposta. Não só pela premissa de uma caçada de monstros, algo que é completamente alheio às intenções mais coloridas do MCU, mas pelo próprio fato do especial não ter cores. É a primeira produção do estúdio a apostar na estética preto e branco, com uma forte reverência ao cinema de monstros clássicos da Universal Pictures da década de 1930; até mesmo pelo design mais tradicional do lobisomem titular, vivido por Gael Garcia Bernal.
É uma intenção muito nobre, e que parcialmente resolve o problema da mesmice estética do MCU. Porém, o compositor convertido em diretor de primeira viagem Michael Giacchino não é particularmente muito eficiente. Apesar do preto e branco e das brincadeiras com imagem, o efeito parece muito artificial e falso, onde claramente uma fotografia em alta definição e repleta de efeitos visuais foi simplesmente dessaturada e preenchida com filtros de pós-produção.
Não é como um filme da década de 1930, mas sim uma produção “brincando” de ser um, o que torna impossível levá-la a sério; e Lobisomem na Noite tem, sim, intenções de ser mais maduro e sombrio do que a maioria das obras do MCU. Infelizmente, é uma homenagem vazia e sem peso, já que fotografia em preto e branco raramente combina com sangue digital e raios em CGI.
Apesar de simples, a trama não envolve pela artificialidade de seus personagens. Todos os caçadores são genéricos e desinteressantes, e a inexperiência de Giacchino na função garante performances fraquíssimas, ainda mais pela indecisão temática: atuar de forma “naturalista” ou simular o exagero das produções dos anos 1930? Lobisomem na Noite se perde em que tipo de obra quer ser. Apenas o sempre carismático Gael Garcia Bernal sai ileso, especialmente por seu personagem ser muito mais nobre e empático do que poderíamos imaginar.
Lobisomem na Noite tem ótimas intenções, especialmente para fãs do terror clássico. Porém, Michael Giacchino se sai muito melhor como compositor do que diretor, e o primeiro especial de Halloween da Marvel soa mais como uma brincadeirinha do que algo para se levar a sério.