A felicidade de um fã da DC dura pouco. Mal puderam comemorar o sonhado retorno do Superman de Henry Cavill, apresentado na cena pós-créditos de Adão Negro, e o plano de um universo compartilhado cai por Terra mais uma vez. Em um anúncio surpreendente, o agora co-presidente da DC Studios James Gunn confirmou que estava escrevendo um novo filme do Homem de Aço – mas sem a presença de Cavill no papel, que será preenchido por um ator mais jovem para destacar um período específico na vida do herói. Em outras palavras, um reboot completo.
É o caminho para o qual o plano que Gunn arquitetou ao lado do produtor Peter Safran parece estar caminhando. Com a saída de Patty Jenkins da direção de Mulher-Maravilha 3 e o fracasso comercial de Adão Negro, a Warner Bros Discovery parece determinada a recomeçar do zero, apostando na visão de Gunn e Safran para um plano de 10 anos de personagens da DC, expandindo-se por filmes, séries e até mesmo games. Justamente por isso, por mais que seja difícil se despedir de atores e atrizes marcantes, o reboot completo é a melhor chance da DC se acertar em anos, desde que o universo arquitetado por Zack Snyder falhou em atender às expectativas gerais.
No momento em que Gunn e Safran assumem a DC, a Warner está completamente perdida. Não só o novo presidente David Zaslav havia cruelmente descartado Batgirl, um filme já pronto e com gigantesco potencial, mas a franquia nos cinemas sofria com pequenos reboots e mudanças de rumo dentro de sua própria narrativa; com resquícios do universo de Snyder, tentativas de se trocar o tom, múltiplas versões de um único personagem em continuidades diferentes e até mesmo uma versão de 4 horas de Liga da Justiça aparecendo pelo caminho. É extremamente difícil organizar um caminho para o futuro com tantas amarras a um passado que não necessariamente foi bem sucedido: matar Superman no segundo filme de sua franquia certamente não é uma decisão sábia.
Não dá para culpar Gunn e Safran por quererem uma lousa em branco. É a única forma de garantir um universo coeso e consistente pelos próximos anos. Naturalmente, a decisão levanta algumas dúvidas: como lidar com os próximos filmes da DC marcados para 2023, que seguem o universo de Snyder? Shazam! Fúria dos Deuses, The Flash e Aquaman 2: O Reino Perdido seguem engatilhados para estrear, mas em teoria não significarão nada para o plano maior de Gunn. No entanto, ainda podem ser bons filmes, mantendo a qualidade cinematográfica em primeiro lugar – algo que Gunn também poderia aplicar a seu planejamento do DCU, que certamente o tornaria mais especial e superior ao da Marvel Studios de Kevin Feige. Uma alternativa sábia seria trocar as datas de estreia de The Flash e Aquaman 2, já que o filme estrelado por Ezra Miller já brinca com multiversos e linhas do tempo alternativas. Parece um fechamento mais digno para a chamada era Snyder da DC.
Outra dúvida que fica é se, no caso de um reboot completo, Gunn apagaria seus próprios filmes. O Esquadrão Suicida e a série derivada do Pacificador foram duas das obras mais elogiadas da DC em anos, e justamente por isso devem permanecer intocadas. Felizmente, ambas as produções eram mais isoladas e descoladas do universo geral da DC, e o diretor muito provavelmente não vai querer perder os talentos de Margot Robbie, Viola Davis, Idris Elba, John Cena e tantos outros.
Há também a questão do Batman de Robert Pattinson e o Coringa de Joaquin Phoenix, que aparentemente devem seguir em seus universos paralelos e sem integração com o DCU mais amplo de Gunn. É uma boa escolha, mas uma inclusão do Cavaleiro das Trevas de Matt Reeves no jogo não seria uma má ideia.
Por mais que seja triste ver um ator tão apaixonado e carismático quanto Henry Cavill perder sua chance de enfim abraçar o Superman, o reboot proposto por James Gunn e Peter Safran é uma boa escolha. Por mais interessante que tenha sido, a visão de Zack Snyder nunca serviu para ser a “versão oficial” dos grandes ícones da DC, mas sim releituras muito específicas. Agora, pela primeira vez em anos, parece que a justiça será servida para alguns dos maiores heróis da História dos quadrinhos.