Kathryn Bigelow já é uma velha conhecida da Academia, sendo a primeira mulher da história do cinema a ter vencido a categoria de Melhor Direção, feito conquistado em 2010, com o filme Guerra ao Terror, que também acabou levando o prêmio de Melhor Filme naquela ocasião. Em seu novo longa, “Detroit em Rebelião”, ela mostra novamente toda sua técnica ao conduzir um longa baseado em fatos reais, sabendo utilizar o fator documental e a ficção de maneira eficaz e correta.
O roteiro aqui é de Mark Boal, que já havia escrito outros dois longas de Bigelow, Guerra ao Terror e A Hora Mais Escura. Na história, acompanhamos três trajetórias distintas até o fatídico ocorrido em um motel, o assassinato por policiais de três jovens negros. Tudo isso, se passando em meio à um período de rebelião da comunidade negra em Detroit, fazendo com que a cidade se tornasse uma verdadeira zona de guerra.
A narrativa é muito bem conduzida, introduzindo todo o momento caótico da cidade, nos mostrando os personagens antes do ocorrido, e assim nos fazendo entender quem são eles e nos fazendo se importar com eles, antes de partir para a ação, por assim dizer. Seguimos os personagens de Larry Cleveland (Algee Smith), um promissor cantor, seu amigo Fred (Jacob Latimore), o segurança de uma loja Dismukes (John Boyega), e os policiais civis, liderados por Krauss (Will Pouter), até eles se encontrarem no Motel Algiers. O segundo ato se passa completamente dentro do motel, com os policias repreendendo as pessoas que ali estavam, alegando a existência de um atirador entre eles, e que esse teria disparado contra a Guarda Nacional. Não perdemos nenhum detalhe do que ocorre no local, tudo é muito bem estruturado, criando uma enorme tensão e segurando a maior parte do tempo, o ritmo lento da história. O único problema notável do roteiro de Boal, se localiza no personagem vivido por John Boyega, pois a partir da metade do filme, ele vai sendo deixando de lado gradativamente, e seu arco, acaba não sendo explorado por completo, o que prejudica a conclusão da história num geral.
E apesar de o longa ter atuações impressionantemente sólidas e até surpreendentes, desde Algee Smith até Will Pouter, o maior destaque vai para a diretora. Bigelow usa a câmera em um estilo documental durante toda a metragem, sendo se não por inteiro, 95% em câmera na mão, e mesmo assim, ela opta por se utilizar de muitos cortes na edição, e é exatamente aí que vemos seu diferencial. Muitos diretores não conseguiriam montar este filme com tantos cortes e câmera tremendo, mas Bigelow coordena isto de maneira perfeita, sendo tudo absolutamente compreensível, e ainda cobrindo todos os acontecimentos, valorizando ainda mais seus atores em cena. Ela dá um show de como orquestrar todos os elementos técnicos de um filme em prol do produto final. Da fotografia até o som, o filme se demonstra impecável em sua proposta.
São raros os cineastas que têm a capacidade de misturar o documental com a ficção de maneira tão orgânica quanto Katheryn Bigelow, e em ˜Detroit em Rebelião”, vemos toda sua experiência e conforto ao fazer isto. Evocando o melhor de seus trabalhos, temos um longa onde ela mereceria mais uma vez, a indicação ao Oscar de Melhor Direção, pelo menos até esse momento de 2017.